sábado, 8 de setembro de 2012

O tão esperado momento




Retornar aos treinos tem sido, digamos, extremamente divertido. Não se pode dizer que é como se fosse a primeira vez, pois em situações assim vive-se o momento e pronto. O volta à ativa é envolta em especial sabor. Cada treino é çomo tomar um Cornetto e esperar incansavelmente para chegar à bendita ponta do chocolate. Ou quando o carrinho da montanha russa inicia seu percurso e já na primeira subida já estamos com frio na barriga, apenas aguardando os próximos segundos. Quem nunca acompanhou uma música esperando para se acabar no refrão? Aquele mesmo que te fazia pular e gritar junto com seus amigos? Bom demais.

Pois bem, é assim que vinha conduzindo cada sessão de treino. Corridas curtas, sem forçar no ritmo, distâncias progressivas, treinos de bike contidos, ganhando horas de selim, calejando, buscando cada vez mais prolongar minha permanência ali. E a cada pequeno progresso, desde um quilômetro a mais percorrido ou um tempo menor para uma volta, conseguir girar em cadência de 100 rpm ao longo de todo o treino, tudo isso fazia crescer a vontade de experimentar a combinação perfeita, a dupla dinâmica, aquela que por muito ocupou minhas quintas e sábados: ciclismo e corrida. Mesmo um brick pequeno despende um tempo considerável, o qual, na linha de minhas prioridades atuais, não tinha. Seria em um dia em que conseguisse produzir nos estudos, estivesse sossegado com aulas e sem obrigações maiores.

E o grande dia chegou. Ironicamente quando comemoramos a Independência do Brasil, iria eu enfim poder me libertar das amarras que por muito me prenderam e impediram que fizesse o que, por muito e todo o sempre, me centra, energiza, permite que renove corpo e mente. Já era tempo. Comprido com boa parte das obrigações, mais um fim de tarde belo e seco em Goiânia, não restavam dúvidas: bike no rolo, tênis perto da porta, gel separado, garrafas devidamente preenchidas, treino planejado, hora de cantar o refrão, encarar a descida, comer a pontinha de chocolate. Chegara a hora de me divertir!

O ciclismo seria um intervalado: 5x (10’ (95-100 rpm) x 2’ coroa pequena). Retomei minhas planilhas do ano passado, pois já demonstram seu “poder” e, com certeza, me darão a base necessária até janeiro. O primeiro bloco foi tranqüilo. Técnica mantida, buscando a posição correta na bike, girando bem, carga ideal e o suor já marcava presença (e olha que pra algo ficar molhado por aqui é difícil! Haja água!!!). Segundo bloco, terceiro, tudo certo. Ao começar o quarto e penúltimo senti que as pernas já estavam sentindo a ritmo. Ótimo!!! “Foca no treino”, certo Murilo Barizon? Abaixado no clipe, olhar no horizonte, o segredo é limpar a mente. A cada situação de desconforto, ao menor sinal de dificuldade, pode estar certo que seu cérebro vai tentar te induzir ao erro. Não o faz por maldade, é apenas o processo de seleção natural. Alguns simplesmente poderiam parar, desistir, se perguntar o porque. “Não agora, não comigo”. Com a mente limpa, branca como uma folha de papel, fica mais fácil desenhar o que vai dali pra frente. No meu caso mais 20 minutos de treino forte!

Quinto e último bloco feito em meio a técnica de respiração, planejamento de percurso pra corrida e alguns xingamentos para tentar manter a carcaça em movimento. Ciclismo completo, 34.7 km percorridos em 1hora e cinco minutos, com aquecimento e tudo, pernas soltas, troca de “pisante” feita com sucesso, partimos para a corrida.

Nossa, realmente já não lembrava como era sair pra correr após pedalar. Controlar o ritmo, abaixar a freqüência, acertar o passo, encaixar a corrida e seguir. A figura do Mestre Márcio ressurgiu em minha mente e, junto com ele, meu Garmin suicida, que insistiam em me colocar para rodar em um pace exato. “5’29 não é 5’30”. Como ouvi isso... Voltei minha atenção pra técnica de corrida, segurei a empolgação oriunda em parte da bike, mas em maior parte pelo estado de graça que nos encontrávamos. A corrida seria curta, mas bem proveitosa.

Entorpecido, fizemos uma volta pela cidade de Goiânia e, quase sem perceber, nos vimos novamente em frente de casa. Foram apenas 40 minutos, o suficiente para o retorno e, mesmo querendo mais, deu-se por finalizado ali. Desde 27 de maio não experimentava situações que me remetessem ao triatlo. Fizemos a primeira boa sessão, estamos de volta, agora começa a caminhada rumo ao Ironman de 2013. Feliz por perceber que não só de boas lembranças vivem um homem. Agora falta arranjar uma piscina, desenterrar o Neon, a planilha da Elo, reler aqueles loooongos de treinos que por muito insistiam em aparecer e, graças a eles, tiramos de letra os 3800 metros de natação. Mas será impossível, quando já não tiver mais a conta de quantas piscinas fizemos, não lembrar a figura do Mestre das Águas, o único portador de um tubarão híbrido, percorrendo toda a borda e buscando manter o nível sempre acima do que pensávamos ser capaz. Sempre sorrindo! Que volte a rotina, as planilha semanais, os longões de final de semana. Que venha janeiro, que a loucura recomece, que o “nível lesão” de viver a vida ressurja. Estamos prontos. Uma resma de A4 aguarda ansiosa para dar forma a mais boa historia. No aguardo, só não demore. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A passos curtos


 


     Muito tempo se passou desde então. Não sei bem ao certo a origem, mas pude vivenciar cada minuto de incapacidade. Pode ser que tenha surgido no Ironman, talvez seja resquicio do a cidente, o certo é que por exatos 96 dias não pude correr desacompanhado de dor, muitas das tentativas inclusive interrompidas bruscamente tamanho o desconforto. Para quem vinha de uma rotina de treinos diária, o limbo e o ócio realmente pareciam um preço muito alto a se pagar.
 
      Entrando em outro ritmo de vida, sabia que os treinos ficariam para terceiro plano e, com isso, poderia dar um tempo maior para meu corpo se recuperar. "Vá ao médico" muitos diziam. Não via necessidade. Seia simples assim: pedirim um raio - X, veria não haver fratura e, ou me mandaria repousar ou solicitaria uma ressonância, a qual não faria de forma alguma (nada de gastos por hora). Então restava-me o repouso e a paciência.
 
     E assim seguiram-se os dias. A cada semana uma tentativa, alguns metros percorridos e dor ressurgia. Sim, estamos falando de metros, de distâncias próximas a 200 metros, exatamente da porta de casa até a esquina. A cada fracasso era assolado pela angústia de não saber onde tudo aquilo daria. Já se passara 60 dias e nem sinal de melhora, nada de progresso, nem pedalar era possível. Mesmo certo de não ser a hora de pensar em treino, começava a temer pelo futuro. Janeiro está aí e com ele mais um ciclo rumo ao ironman. Seria possível iniciá-lo?
 
      Foi então que, saindo para mais uma averiguação, percebi que conseguira passar do meu limitador. Virara a esquina e agora prosseguia por um caminho até então nunca percorrido de forma tão dinâmica. A cada passo dado, um sorriso desconfiado ganhava forma em meu rosto. Estaria curado?? E assim fomos pelas ruas de Goiânia, cortando carro, alternando calçada e rua, sem saber ao certo onde chegaríamos. E já com aproximadamente 5 km percorridos, a dor deu sinal. Automaticamente parei. Uma mistura de frustração e alegria eram processadas em meu corpo. Já não lembrava quando podera fazer tal distância sem problemas, mas a dora ainda estava presente. Voltei caminhando, repensando minhas opções, estratégias, tentando definir como proceder dali para frente.
 
      Quinze dias separavam minhas duas últimas corridas, diferenciadas por exatos 5 km! Parecia que estávamos em processo de recuperação. Não havia forçado tanto, sabia que mais alguns dias de descanso e provavelmente conseguiria retomar minha corrida. Um ponto que defini como certo foi a alteração da técnica. Já aplicara anteriormente, mas, por estar sempre preocupado com o tempo, acabava me esquecendo desse elemento e me voltava a correr "errado". Agora não, estaria praticamente começando do zero, sem pressão, sem tempos à vista, ideal para consolidar a técnica. Toda a teoria estava passada, agora era esperar.
 
      E assim passaram-se os dias e então descobri uma corrida de rua aqui em Goiânia. Cinco quilômetros me pareceram uma boa pedida para colocarmos à prova nossa lesão. Domingo cedo, solzão do cerrado, hino nacional (veja só, nada de "I gotta feelin'") e partimos. O foco era simples: técnica. Passo curto, pé ante pé, tocando o chão apenas com a ponta do pé, contato mínimo, sem perder a cadência. Apesar de toda a atenção voltada para a mecânica, nada impedia de observar o ambiente à volta, o percurso, os participantes. Me sentia como uma criança em um parque de diversão e cada rua passada, cada curva, cada aclive ou declive era um brinquedo novo e, incansavelmente, desejava passar por todos. Em meio a esse dilúvio de emoções, acabo sendo surpreendido por araras voando em meio à cidade. Vindo de provas onde pombos sobrevoam os corredores, ser acompanhado por araras me pareceu realmente um presente de boas vindas. Todo sob controle, nada de dores, estávamos de volta.
 
      Prova concluída, 5 min/km, até abaixo do esperado, pois há muito não treinávamos, mas nada melhor do que poder acabar uma provar sorrindo, sem dor nenhuma impugnando. Fez-me lembrar da minha última linha de chegada, repleta de felicidades e boas companhias. Aflorou disciplina de cumprir à risca cada treino, cada metro corrido, cada minuto em cima da bike, cada braçada na piscina. Soube ali que deveria inserir meus treinos à rotina de estudos, que dentre minhas 24 horas havia espaço e necessidade de somarmos tal compromisso. Lembrei de onde vinha a disciplina e determinação que hoje aplico ao meu dia a dia. Como diz o adesivo: "a vida é simples: nadar, pedalar, correr, comer, dormir". Inseri um estudar na rotina, mas a linha de raciocínio é a mesma!
 
      Após quase cem dias enfim tivemos uma semana de treino. O ciclismo? Por enquanto no rolo, colocado estratégicamente em um terraço, com uma vista maravilhosa e um vento natural que faz inveja a qualquer ventilador! As corridas agora são partes constantes, válvulas de escape para minhas horas de treino. É delas que tiro forças para encarar mais algumas horas de estudo. As 24 horas do dia estão quase todas preenchidas, não há diferença entre uma segunda, uma quinta ou um sábado. Todos os dias seguem da mesma forma, com o mesmo grau de responsabilidade, as mesmas obrigações e feitas com a mesma dedicação. A última vez que me dediquei integralmente, me foi permitido viver um dos momentos mais felizes e deliciosos da vida. Aumentei o desafio, subi o nível das metas, agora e canalizar as energias e esperar que possamos desfrutar dos louros da conquista. E que venha 2013.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Back in Black


Hoje foi dia de Batman. Uma pequena intervenção em novo estilo de vida. Dividir as horas do dia entre estudo, aulas e pequenas pausas para comer e dormir, vem sendo um duro aprendizado. Não estou reclamando, longe disso, mas o corpo sofre para completar o processo de assimilação. Por isso me permiti, sem muito peso na consciência, desfrutar de um momento de prazer: assistir ao novo filme do Batman nos cinemas.

A excitação pelo reencontro não se faz necessário descrever. A certeza do compromisso trouxe-me lembranças do texto escrito no outro blog, onde fazia alusão a esse super herói, tentando ganhar forças para superar as dificuldades dos treinos nas ferrenhas batalhas enfrentadas pelo Cavaleiro. Chegara a hora. Estávamos frente a frente novamente.

Construção dos Alicerces

O filme, já de cara, cria um paralelo entre dois pilares centrais da trama: de um lado Bruce Wayne, vivendo nas sombras sob lendas urbanas que pairam por uma Gotham , cidade em uma paz que não lhe pertence; do outro apresenta ao mundo o que todos nós admiradores esperamos por tantos anos: Bane. Não um balão de seiva, como o apresentado em Batman Forever, total decepção. Agora se tratava do mais puro espécime de força bruta, repleto de ódio e sofrimento, nutrido pelo tempo que passou esquecido nas páginas dos gibis. Chegara sua hora e ele não iria desapontar.

Mas não são apenas os músculos que lançam Bane ao centro do palco. Envolto por uma máscara que lhe mantém sob o controle da própria dor que o persegue, é capaz de motivar pessoas, fazer crer seus objetivos, gerar um objetivo comum, criar um exército de fieis seguidores, capazes de achar na morte pela causa a maior retribuição pela lealdade prestada. Instalados em Gotham, Escondidos no submundo dos esgotos da cidade, aguarda momento exato de liderá-los rumo à guerra.

Enquanto isso, Bruce permanece escondido, apoiado em uma bengala, rastejando pelos corredores de sua mansão, sob os cuidados de seu eterno mordomo Alfred. Optou pela reclusão ao perder um grande amor e ver Batman renegado pelos seus, acusado (injustamente) pelo assassinato de um falso mártir. Pelo bem de sua cidade, ele se esconde.

Então é tentado pela jovem Selina Kyle, uma bela senhorita que, dançando entre a inocência de uma ninfeta e a malícia de uma gatuna, consegue não só roubar Bruce, como o faz após vencer um sistema de segurança, até então, tido como intransponível, além de, com um simples toque, jogá-lo ao chão com suas fraquezas. Do ponto mais baixo em que poderia estar, foi capaz de ver que ainda poderia seu útil, que a calmaria era utópica e que sua volta talvez fosse necessária. Após ser informado que o eterno chefe de polícia de Gotham, Comissário Gordon, fora baleado, que um mercenário habita o submundo de Gotham, as dúvidas já não o atormentam mais. Hora de revisitar a caverna, conferir seus equipamentos, visitar o velho amigo Fox (seu representante na empresa Wayne e fornecedor dos “brinquedos” mais cobiçados do mundo).

Faz-se dia e o filme “esquenta”. Bane e seu bando invadem a Bolsa de Gotham, dão início a um golpe e, após se verem cercados pela polícia, dão inicio a uma fuga alucinante. E, em meio a essa perseguição, em meio a uma queda de energia na cidade, a apreensão de um oficial veterano no filme e de todos que assistiam ao mesmo, vem surgindo mediante um barulho ensurdecedor e então ganha forma: sob sua moto (mais que moderna!!!), o homem morcego deixa as sombras e volta à ativa Batman ressurge!

O filme segue, o embate toma outro caminho, os pilares ainda não são postos à prova. Bruce Wayne, agora o mais novo pobre de Gotham City, vê em Selina sua única chance de chegar a Bane. Guiado pelos esgotos, o morcego se vê traído pela jovem e acaba se deparando com o monstruoso mercenário.

O Primeiro Confronto

É horripilante olhar para o rosto de Bane. Sua máscara, repleta de conexões, num primeiro momento pode se assemelhar a dentes, como se tentasse dar um ar mais agressivo à besta. Mas então os closes em sua face são constantes e a sensação de se ter duas mãos em sua face, como se segurassem suas mandíbulas fica muito forte. É impossível saber se estão ali na tentativa de abrir uma saída para tanto desespero acumulado naquele ser, ou se, oriundas de toda a extensão da cabeça de Bane, saibam o que habita aquela mente e tentam fechar o que seria a passagem para todo o mal produzido, como se o sufocassem com suas próprias desgraças.

Enquanto isso Batman enfrenta seu maior inimigo: ele mesmo. Bruce, fruto da violência de Gotham, sempre nutriu a revolta pela perda brutal de seus pais e canalizou em Batman toda a sua angústia por não ter sido apoiado quando mais precisou. Fez-se homem levando uma vida dupla e brincando com a morte ao encarnar o vigilante mascarado.
E Bane sabe com brincar com isso. Entre socos e pontapés, provoca os demônios que atormentam seu rival, o faz encarar sua própria decadência. Aqui, o filme fundamenta-se no mundo dos quadrinhos, trazendo à tona “O Cavaleiro das Trevas”, onde Batman se encontra senil, consumido pelo tempo, obrigado a retomar sua vida dupla e a pagar pelas limitações impostas pelo tempo. Nas telonas Wayne tenta recorrer àqueles sentidos e movimentos que o fizeram triunfar, mas ali parecem não surtir efeito. A cada golpe, uma humilhação. Bane se delicia com a fragilidade do herói. Sem fundo musical, a intensidade da cena é ditada pela ofegância de Bruce, suas explosões de ira e seus revides inúteis. Nesse momento a palavra “trevas” ganha notoriedade, transcendendo seu conceito superficial, o qual remete Batman à escuridão de uma caverna e traz à todo o vazio que habita aquele ser, o abismo no qual permanecera por tantos anos, sozinho, sem perspectivas maiores. Dá mais significado ao negro das vestes que, mais do que fator de camuflagem, expõe ao mundo quem realmente é Bruce Wayne. Após sofrer submeter o homem morcego a todo tipo de castigo, Nolan tem a frieza de reproduzir aquela que estampou o fim de Batman nos quadrinhos, o golpe de misericórdia. Como se carregasse um pequeno graveto, Bane ergue Bruce acima de sua cabeça e o descarrega em seu joelho. Um estalar causa desconforto a todos que presenciam a cena. Seria o fim?



Gotham “Cityada”
Bruce é levado à pior prisão do mundo, berço de seu algoz e sua provável sepultura. Lá, impedido de se locomover por conta do deslocamento de uma vértebra, é mantido vivo para assistir ao trágico fim arquitetado por Bane. Esse inicia seu movimento popular e, genialmente, consegue reter toda a força policial de Gotham nos esgotos e facilmente tomar o poder. Está instaurado o caos.

Bruce inicia seu processo de recuperação. Conhecedor da linha temporal dos planos de Bane e auxiliado por um médico exilado na prisão, calcula exatamente o quanto lhe resta para impedir o fim de sua cidade. Uma serie de flexões no inferno em que se encontra, tende a passar despercebido aos olhos dos menos atentos. Porém instiga os demais a se reconfortarem em suas poltronas. Sabem que o velho morcego assimilara suas fraquezas, mas ainda possuía total discernimento sobre suas capacidades. O que havia sido imposto a ele como castigo, acabara se transformando em aprendizado. Era chegada a hora do retorno.

O Segundo Confronto

De volta a Gotham, Bruce recorre mais uma vez a, agora devidamente apresentada por suas atividades, Selina Kyle. Ela sabe que o traíra seguidamente, mas ele parece não se importar muito cm o fato, transparecendo saber que, na verdade, ela o levara até onde ele esperava chegar. Mais uma vez juntos, iniciam a operação. A bela mais uma vez não se compromete a permanecer fiel aos propósitos. Seria um ato apenas e o fim. Conseguem então libertar  a força policial e, agora munido de um exército, Batman se vê pronto para liderá-los em busca da retomada do controle.

O embate final é digno das grandes guerras medievais. Os exércitos se projetam a um ponto em comum, atirando uns contra os outros, transpondo os corpos que vão desfalecendo ao longo do caminho. O encontro traz um poder descomunal, tamanha a massa envolvida. Em meio aos “soldados”, Batman e Bane se procuram. E se encontram.

O Morcego agora parece ter controle sobre suas emoções. Os dois ex-guerreiros da Liga da Escuridão desferem toda a técnica compartilhada no treinamento comum. Agora a força bruta de Bane parece não ser um obstáculo intransponível. Com golpes precisos, Batman toma o controle da situação, danifica a máscara de Bane que, agonizando pela dor agora explícita, inicia um ataque frenético e descontrolado. Completamente consciente de suas ações, o Cavaleiro vai impondo todo o castigo possível ao vilão que causara tanta destruição em seus mundos.

Prestes a dar se golpe de misericórdia, Batman se vê assolado por um golpe de traição. Ainda sem processar o que estava a acontecer, é colocado a par da real situação, da imensidão do plano e do papel secundário de Bane. Agora, mais uma vez condenado à morte, ferido e sem recursos para se libertar das garras de seu carrasco, o filme vira. Selina, popularmente conhecida por nós como Mulher Gato, mantém-se fiel aos seus instintos: independente, arisca, indomável, não se faz submissa a um dono, mas como um verdadeiro felino, não mede força para defender os membros de seu bando. Retorna ao confronto e, sob posse de um dos brinquedos de Bruce, extermina o grande Bane.

A partir daí segue-se as sequencias lógicas para que tudo dê certo.  Forças são concentradas para livrar Gotham da destruição, Batman oferece sua vida, mais uma vez em prol da cidade e, por fim, aqueles que por muito foram protegidos pelo Cavaleiro e em diversas oportunidades o desprezaram, enfim reconhecem seu valor e, em meio à sua provável morte, inauguram um estátua do Homem Morcego.

Mais uma vez, Christopher Nolan presenteia os fãs de Batman com uma leitura digna daqueles que cresceram perdidos no mundo dos HQs, conseguindo representar muito mais que socos, pontapés e efeitos especiais. Apresentou-nos o Curinga em sua forma mais delinqüente, completamente perturbado, capaz de tornar Batman secundário em seu próprio filme. Agora rege a obra com maestria, retirando de todos o máximo, causando desconcertamento aos que assistem ao filme, erupcionando todo o drama que por ventura ainda não havia sido percebido em torno de Batman. O Cavaleiro das Trevas ressurge sim. Após um hiato na série, conclui sua trilogia com chave de ouro, mas sem antes abrir possibilidades para novos projetos. Resta-nos aguardar por mais um grande espetáculo. Cerram-se as cortinas. O Homem Morcego refugia-se na escuridão mais uma vez.

sábado, 14 de julho de 2012

O novo de novo



     Muito tempo se passou desde que nos relacionamos pela última vez. Muita coisa aconteceu. Bons momentos, maus momentos, todos carregamos marcas desse período. Um Ironman, o acidente de carro, a mudança, o sedentarismo, todos eles contribuíram para que nos afastássemos. Mas doía vê-la ali, parada, esquecida, tendo como companhia apenas a poeira que insistia em tomar sua superfície como uma era daninha. Não poder treinar, carregar a dor de uma lesão desconhecida, estar incapaz de se fazer o que gosta, persistir no erro, pagar com a dor por um breve momento de prazer, era a beira do precipício.

      Chegou a hora então de fazermos algo para mudar tal situação. Tais situações! "Temos o problema, eu quero a solução", certo? Iniciei a reaproximação. Nada como uma bela limpeza, água corrente por toda sua extensão, capaz de fazer brilhar aquela que a muito dormia esquecida. A montagem minusciosa, a regulagem, pneus calibrados, pedais encaixados, rolo de treino em posição, estava tudo pronto. Ajustei-a ao equipamento, hidratação checada, tirei a farda do fundo do guarda roupas, a sapatinha escondida em uma mala e me preparei para o tão esperado momento.

     Sentei-me e calmamente comecei a pedalar. "Volantinho" para aquecer, pois já são quase dois meses sem ao menos montar um bicicleta. Ainda tínhamos afinidade. Ela pedia mais, eu queria mais, porém um pouco de prudência na era má ideia. Apenas 5 minutos de giro e, com uma autonomia absurda, minha mão esquerda deu o tão esperado toque. Pronto, o "volantão" fora acionado, a bike parecia gritar de alegria, a barulho do giro acoava dentro do pequeno apartamento e, como nos velhos tempos, voltávamos a fazer força juntos.

     Mas a empolgação começou a dar lugar ao cansaço e aos maus pensamentos. As pernas falseavam, a frequencia cardíaca já elevada, o suor escorria descontroladamente pela face. "Por quanto tempo pedalamos?". Apenas 10 minutos de força e já estava sentindo. Teria eu esquecido? Não, sem paranoia. Estamos apenas voltando. Não é a continuação de um trabalho e sim um recomeço.

     Decidi que permaneceria ali por mais 20 minutos. Achei que 30 minutos seriam suficientes para quebrar o gelo. Relação de 53 X 17, 90 rpm, receita para o sucesso. Parecia que estávamos no caminho certo. Boa forma de se matar a saudade!!

     Mas os 20 minutos pareciam eterrnos. A cada sensação de 5 minutos, uma checada no relógio e a terrível descoberta: 30 segundos passados. "Nossa, vou morrer!". "Não, não vou.". Aceito a condição de destreino, mas fraqueza mental não pode fazer ninho por aqui. "Foca no treino!". Boa Muru! Abaixei a cabeça e deixei fluir, buscando corrigir a pedalada, prestando atenção aos detalhes. Agora é a hora de lapidar, pois quando estivermos realmente em fase preparação, pequenos erros não sabotaram a atividade.

     E assim cumprimos a meta planejada. De volta ao "volantinho", hora de reidratar, soltar a perna e dar uma desacelerada. Nossa, a quanto tempo não sentia aquele cansaço bom. já não me lembrava do que era enxarcar uma toalha. A bicicleta, coberta de gotículas, não deixava claro quem era o dono daquele suor: ela ou eu. Foi especial. Eramos ambos sobreviventes. Ela cheia de arranhões na pintura, uma manete torta, rodas empenadas, frutos da capotagem. Eu com algumas cicatrizes e dores pelo corpo. Ambos felizes por estarmos fazendo o que gostam. É isso aí, na alegria e na tristeza, até que a morte os separem!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Como se fosse a primeira vez



     Prestes a começar uma nova jornada, quase tudo certo na nova terra, permiti-me ter um momento de prazer: decidi que era hora de assistir O Espetacular Homem-Aranha. Dessa vez seria diferente, nada de 2D. Ainda não tinha experimentado o 3D, mas lembrei-me de um conselho que recebi a poucas semanas de alguém que não foi fanático por quadrinhos na infância, mas aprendeu a deliciar-se com eles nos últimos anos: “Assista Os Vingadores em 3D”. Não deu. Agora seria minha chance.

     Ir a uma sessão Marvel é algo diferente. Nossa, ainda me lembro dos tempos de moleque, da leitura dos quadrinhos, a visita à banca de revistas em busca de uma nova edição ou sebo à procura de um tesouro perdido. Os desenhos animados eram o supra-sumo do prazer. O resto ficava a cargo da imaginação: “Quem seria o Wolverine no cinema? E o Homem-Aranha? Imagine ele lutando com o Venom...”. O resto já é presente. Ingresso na mão, óculos entregues, hora do show.

     Adentrei ao cinema, localizei minha poltrona e me acomodei. Tempo suficiente para observar os que chegavam. Poltrona numerada não seria para facilitar a vida das pessoas? Não em Goiânia. O casamento entre letras e números parecia inconcebível. “Onde fica L2? ‘Bein’, F4 e F5 é aonde?” Enquanto isso eu tentava me familiarizar com o óculos, que insistia em escorregar pelo meu rosto. “Alguém mais cabeçudo havia usado antes? Duvido!” Fim dos trailers, letreiro rodando, mais um show Marvel estava por começar.

     Spiderman é sempre Spiderman e a história deve seguir a mesma linha: Peter Parker, aranha, Tio Bem e Tia May, o gosto por fotografia..., mas dessa vez a “pegada” parecia ser outra. A começar pelo jovem Peter, mais moço, detentor da mesma genialidade científica, mas sem aquela cara de paspalho, pendendo mais para o jovem Clark Kent do que para o Wally. Seguindo o paradeiro de seus pais, acaba infiltrado OSCORP (sempre os Osbourne!!) e picado pela tal aranha. Nada de aranha em museu ou feira de ciência. Agora era uma espécie estudada pelo seu próprio pai, cultivada em laboratório e fruto do projeto de seu pai. A genialidade se confunde com a curiosidade de um adolescente e ele acaba transpondo limites e, como conseqüência, é picado. O resultado? O moleque adquiri um reflexo descomunal, super-força e saltos mirabolantes. A teia? Não, ele não sai por aí “cuspindo” a esmo. Desenvolve um sistema lançador de um fio produzido na OSCORP. Colanzinho devidamente costurado, inicia-se as aventuras do jovem Peter.

     A sacada do filme fica por conta de manter vivo os conflitos de um adolescente de 17 anos. Órfão, criado pelos tios, sempre alvo de chacota na escola, nutre um paixão por Gwen Stacy. “Ah Gwen, e ainda pensavam que Mary Jane era o grande amor da vida de Peter. Doce ilusão...”. Colegas de sala, Peter se perde no discurso ao ser confrontado pela mesma. Ali seus super poderes são inúteis (ao menos que resolvesse sair correndo pelas paredes!!). Capaz de lutar contra vários bandidos ao mesmo tempo, de tirar sarro enquanto “embrulha”mais um meliante,  se vê impotente diante de Stacy. Cabe a ela o dever de quebrar o gelo, de dar o primeiro passo. Jovens...Assim com nos quadrinhos, ela se torna o porto seguro dele, onde tormentas e dúvidas pareciam serem superadas.

     Mas até então não via o porque de ter pago o dobro e estar usando um óculos irritante.Para te profundidade entre as letras e o cenário? Passo. Ficava indo e vindo com o dito, pois não havia força que o segurasse na minha cara! Então ele vem o cartaz de recompensa por fotos do Lagarto e a multifuncionalidade do Aranha é colocada à prova. Embrenhado nos esgotos, ele prepara uma armadilha com sua teia para tentar obter algumas imagens. Ah, a profundidade... impressionante ter a nítida extensão de cada fio lançado ao longo dos dutos, sua vibração ao menor sinal de movimento, o deslocar dos lagartos... e o Aranha locomovendo-se sobre eles? Demais!

     Segue o filme. Conflitos, pancadas, romance e então chegamos ao epílogo: o franzino homem-aranha tinha que lutar com uma lagartixa de seus quase 4 metros, salvar a Stacy e ainda fugir da polícia de Nova York. Pra ajudar, ainda tomou um tiro e aí a coisa ficou feia. Já não era efetivo no lançamento de teias, tombava pelos prédios e, quando parecia imcapaz de chegar para a grande batalha, em pé sobre um terraço a observar seu destino ainda distante, os amigos que ele fez em sua curta trajetória como herói (claro, você não achava que não iria dar certo), resolvem dar uma mãozinha.  Ele inicia sua corrida rumo ao precipício: passo raso, passo fundo, passo raso, passo fundo, solta um punhado de teia e vai pra luta.

     Soco de um lado, chute de outro, rabada da lagartixa, tira a máscara, estrangula, joga pra cima... isso tudo em 3D! Aí sim a tal da profundidade faz diferença. Bandido vencido, promessa que selaria seu futuro com a jovem Stacy feita, hora de fazer o grande final: o vôo por Nova York. Uau, é quando realmente nós, que sempre imitávamos as lançadas de teia, os vôos em seqüência e as aterrissagens flexionadas, podemos desfrutar do tal do 3D. É um show de imagens, capaz de fazer qualquer marmanjo ranzinza esboçar um sorriso. Uma viagem única, onde primeira e terceira pessoa se confundem, onde a infância não parece tão longe assim e a vontade de reviver aqueles tempos faz o coração bater mais rápido. O Aranha continua sendo o Aranha, porém mais descolado, como o Peter Parker dos quadrinhos, a Stacy não foi a primeira namorada, mas foi o amor que não pode ter seqüência, coisas da vida, nem por isso é esquecido, o Stan Lee continua aprontando das dele, claro. Agora, ainda em transe pela experiência, fica o pensamento: imagine a luta do Ironman com o Hulk em 3D? Meu Deus, acho que perdi uma oportunidade de ouro. Droga!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Marco zero

   

    Nossa, com é difícil deixar a zona de conforto, quebrar a rotina, sair do comodismo... Chega ser engraçado, em meio a tantos acontecimentos e mudanças em minha vida nos últimos dias, minha maior aflição ser justamente começar um novo blog. O Odisseiaironman foi uma delícia, consegui transparecer minha rotina de treinos, conflitos, bons momentos e acabou sendo bem aceito por quem o acompanhava. E agora, o que fazer: dar continuidade a ele ou começar do zero?

     A proposta era simples: relatar o caminho traçado até o Ironman Brasil 2012. Feito isso, finaliza-se o ciclo. Chega a hora de traçar novas metas, mudar o foco, fazer diferente. Um novo blog se faz necessário e, sem compromisso com temas, se permite pairar por campos distintos e falar do que bem entender. Traz estampado "na testa" seu descompromisso com a formalidade.

     Saída do trabalho, mudança de cidade, de rotina... se a ideia e começar do zero, o passado é para ficar na lembrança e não presente em objetos que insistem em te perseguir ao longo da vida. Minha tentativa (involuntária) de carregar comigo itens que me remetiam a um outro momento foi bruscamente interrompida por um acidente de carro. Resultado? Perda total do carro, toda a carga completamente destruída, salvo a bike, os livros e eu mesmo. Foi como passar por uma operação "pente fino", um portal, onde fui completamente (e literalmente) chacoalhado, forçado a rever tudo vivido até ali e pensar como seria a partir de então. Olhar aquele campo devastado por uma carcaça de uma caminhonete, cheio de móveis e objetos pessoais espalhados, cenário digno de uma tragédia, não me trouxe a sensação de perda. Ao contrário, me senti mais leve, limpo, desprendido, pronto para o recomeço.

      E o recomeço foi com chave de ouro: viagem à Buenos Aires. Nossa, que lugar bacana! Ok, passei alguns perrengues no voo, nem sabia que conhecia tantas orações, mas acabou dando certo. Foi desembarcar, pela primeira vez, em outro país. Agora era bater perna, me misturar aos portenhos, viver a cidade. Andar pelo centro, tomar um café, folhear um periódico, gastar um espanhol... eram de dez a doze horas diárias desbravando o novo mundo. À noite um happy hour no hostel, mais um bombardeio cultural, próximo a uma reunião da ONU tamanha a diversidade étnica ali presente. Quatro horas de sono e já era hora de recomeçarmos.

     "Tudo que é bom dura pouco" e a viagem chegou ao fim. Ficam algumas impressões: o povo argentino é bem simpático; mesmo depois de dois séculos tentando, não aprenderam a fazer café; ficar em hostel por lá é muito negócio; oh lugar para ter mulher bonita; e uma certeza: a necessidade de uma nova visita.

     Agora é hora de romper o cordão umbilical que me prende à Campinas. Tento ficar ao máximo com aqueles que, nos últimos meses, estiveram ao meu lado rumo ao grande dia. A palavra "não" parece ter sido excluída do meu vocabulário. Qualquer convite, mesmo que seja para retirar remédio em posto de saúde, eu  estou aceitando! Vai fazer falta, já faz falta. "A dor é passageira, desistir é para sempre", certo? Temos mais sete dias e aí só em 2013.

      As luzes vermelhas foram acesas, a contagem regressiva foi inciada, a largava vai ser dada. Os dados foram lançados: nova investida na vida profissional, mais um ciclo de Ironman, rotina de estudos... agora é receber de braços abertos. Prontos para mais um ano?